A Revolução Praieira


O movimento ocorrido em Pernambuco entre 1842 a 1849 pode ser caracterizado como o mais
“politizado” de todas as revoltas do período (alguns historiadores consideram-na uma revolução),
no sentido de que originou-se e desenvolveu-se enquanto luta política explícita entre classes sociais
distintas, que procuravam expressar-se em torno de suas posições políticas e ideológicas. Mesmo
levando-se em conta que o “pano de fundo” econômico-social não era radicalmente distinto daquele
das demais revoltas, o fato é que a situação da província de Pernambuco apresentava algumas
particularidades de “modernidade” para a época, digamos assim.
Tratava-se de uma província bastante desenvolvida, em função dos séculos de produção açucareira.
Consequentemente, a força dos senhores de terra e engenho era enorme. Nas cidades, e
principalmente na capital, desenvolvera-se uma forte burguesia comercial, composta majoritariamente
por portugueses. Do outro lado, uma enorme massa de escravos e trabalhadores livres, além dos
artesãos, funcionários públicos, intelectuais etc. A concentração do poder econômico e político
era extremada. Segundo Caio Prado Júnior, um terço dos engenhos da província pertenciam a
uma única família (os Cavalcantis). Os políticos liberais na Assembleia apontavam constantemente
estes fatos e exigiam mudanças. Surge um novo partido (Praieiro, já que seu jornal Diário Novo
funcionava na rua da Praia) que passou a comandar a oposição política (e posteriormente armada) à
situação que denunciavam. Os proprietários e comerciantes, por seu turno, organizaram-se também
num partido (Ordem) e seu respectivo jornal (Diário de Pernambuco). Durante alguns anos, a luta
política se fez a nível parlamentar, entremeada de alguns choques violentos. Em especial após a
ascensão de um presidente na província, que tentou implantar algumas reformas do ideário praieiro,
promovendo inclusive devassas em engenhos da oligarquia. Os revoltosos dominavam amplamente
a província. Quando, em 1848, o governo central nomeou um novo presidente de província com
a incumbência de “normalizar” a situação, generalizou-se a luta armada propriamente dita, como
levante dos praieiros e sua marcha em direção à capital. São derrotados pelas forças da reação em 3
de fevereiro de 1849. Apesar da guerrilha que permanece no interior, os revoltosos são dominados.
Com a derrota, abortara-se também um projeto político autenticamente liberal que os praieiros pretendiam
concretizar em Pernambuco. Esse projeto, expresso claramente em seu programa, foi sintetizado por
Caio Prado Júnior: “1º - Voto livre e universal do povo brasileiro. 2º - Plena liberdade de comunicar os
pensamentos pela imprensa. 3º - Trabalho como garantia de vida para o cidadão brasileiro. 5º - Inteira
e efetiva independência dos poderes constituídos. 6º - Extinção do poder moderador e do direito de
agraciar. 7º - Elemento federal na nova organização. 8º - Completa reforma do poder judicial em ordem
a assegurar as garantias individuais do cidadão. 9º - Extinção do juro convencional. 10º - Extinção do
atual sistema de recrutamento” (Evolução política do Brasil e outros estudos).
COSTA, Wanderley Messias da.
O Estado e as políticas territoriais no Brasil
. São Paulo:
Contexto, 1988, p. 38-39.

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