A CARTOGRAFIA SISTEMÁTICA
A Cartografia, tem diversas
definições. Mais recentemente a fim de estabelecer a universalização
terminológica do tema, a ONU, em 1949, deu a seguinte definição para a Cartografia:
“A ciência que se ocupa da elaboração de mapas de toda espécie. Abrange
todas as fases dos trabalhos, desde os primeiros levantamentos até a impressão
final dos mapas.”
Já a Associação Cartográfica Internacional, em 1964, tratou de caracterizar
a Cartografia como:
“Cartografia é o conjunto de estudos e operações científicas, artísticas e técnicas, baseado nos resultados de observações diretas
ou de análise de documentação, com vistas à elaboração e
preparação de cartas, projetos e outras formas de expressão, assim como a sua utilização”
No âmbito nacional,
a Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) trata a Cartografia como:
“(...) a arte de
levantamento, construção e edição de mapas e cartas de qualquer natureza”
A significação da Cartografia reside na simbolização e a seleção
arbitrada das entidades/ objetos/fenômenos reais a serem visualmente
representados, realizada por meio de pontos, linhas, áreas (polígonos) e
textos.
No Brasil, a Cartografia desenvolveu-se a partir da II Guerra
Mundial em função
dos interesses militares. Instituições como os atuais:
Instituto Cartográfico da Aeronáutica (ICA), Diretoria do Serviço Geográfico do Exército
(DSG) e Diretoria
de Hidrografia e Navegação (DHN),
foram as principais responsáveis pela execução da Cartografia Sistemática brasileira em diversas
escalas.
Em 1922, o Serviço
Geográfico do Exército
deu início à implantação da Carta do Brasil ao Milionésimo, editada pelo Clube de Engenharia, em comemoração ao centenário da Independência.
Já em 1938, quando o Instituto Nacional de Estatística – INE e o Conselho
Nacional de Geografia – CNG foram incorporados ao Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE, teve início o primeiro grande projeto nacional
de elaboração de referenciais cartográficas com fins cadastrais.
Podemos afirmar que o primeiro projeto do IBGE, foi a
“Determinação das Coordenadas das Cidades e Vilas”,
no qual, os técnicos do órgão foram ao campo com seus instrumentos obter
as latitudes e as longitudes nos núcleos de povoamentos até em tão isolados, em
praticamente todo o território brasileiro.
Em 1940, o IBGE deu início ao trabalho de tratamento dos dados coletados
anteriormente, referenciando-os a uma cartográfica sistematizada (detalharemos este assunto
em outra unidade), quanto às categorias
político-administrativas nos níveis municipais e distritais.
A partir daí podemos considerar que estava assegurado o
georreferenciamento dos dados geográficos e demográficos no Brasil.
Em 1967, foi criado um grupo de trabalho – GT, para definir as Diretrizes e Bases da Política Cartográfica Nacional.
Por sua
vez, o GT cria a Política Cartográfica Nacional, para organizar o Sistema Cartográfico Nacional composto
pela Comissão de Cartografia (COCAR),
integrada por todos
os ministérios que desenvolvessem ou demandassem serviços cartográficos; pela iniciativa privada, encabeçada
pela Associação Nacional
das Empresas de Levantamentos Aeroespaciais (ANEA), e pelo
IBGE.
Em 1972, o cenário internacional combinava a tensa coexistência pacífica
entre as potências nucleares EUA e URSS, com a emergência econômica de diversos
países incluindo as ex- colônias europeias.
Considerando todos os aspectos envolvidos, o governo militar
colocou em prática
um sistema de coleta
de dados e informações geográficas, nunca antes visto, denominado RADAM:
“O projeto RADAM foi um esforço pioneiro do governo brasileiro na década
de 70 para a pesquisa de recursos naturais, sendo organizado pelo Ministério de
Minas e Energia através do Departamento
Nacional da Produção Mineral - DNPM, com recursos do PIN - Plano de Integração
Nacional. Na época, o uso do radar de visada lateral (SLAR - side-looking
airborne radar) representou um avanço tecnológico, pois sendo um sensor ativo, a imagem podia ser obtida tanto
durante o dia como à noite e em condições de nebulosidade, devido às micro-
ondas penetrarem na maioria das nuvens.
Em outubro de 1970 criou-se o Projeto RADAM
- Radar na Amazônia, priorizando a coleta de dados
sobre recursos minerais, solos, vegetação, uso da terra e cartografia da Amazônia e áreas
adjacentes da região
Nordeste. Em junho
de 1971 iniciou-se o aerolevantamento. Devido aos bons resultados do projeto,
em julho de 1975 o levantamento de radar foi expandido para o restante do território nacional,
visando o mapeamento integrado dos recursos naturais e passando a ser denominado de Projeto RADAMBRASIL.” (OLIVEIRA, 2012, arquivo
digital).
O período entre 1975 a 1985 pode ser considerado o de mais intensa
produção cartográfica nacional, fruto da modernização dos equipamentos e
processos de produção de representações obtidas com o uso dos sensores remotos,
a fim de atender a demanda da produção econômica, ainda que não atenda, ainda,
aos pequenos produtores em geral.
Lembrando que até este momento, o sistema de gestão da Cartografia é composto por órgãos
do governo militar, a produção e o acesso
aos produtos da Cartografia eram
bastante restritivos.
A redemocratização política do Brasil também repercutiu na Cartografia e
em 1994, o governo federal cria a Comissão
Nacional de Cartografia – CONCAR, nos moldes da Comissão
de Cartografia - COCAR.
A CONCAR manteve as estruturas da representação ministerial com as mesmas
exceções; o IBGE como provedor de apoio
administrativo, e a ANEA, todos, agora, subordinados ao Ministério do
Planejamento e Orçamento.
Aos poucos, o IBGE foi incorporando novos recursos à coleta de informações, como as fotos aéreas, imagens de radar e de
satélites e geração de produtos cartográficos, como os hardwares e softwares disponíveis.
Essas inovações tornaram a Cartografia um campo fértil
para a criatividade dada a facilidade
e agilidade na coleta, tratamento e apresentação das informações geográficas.
Os avanços nas tecnologias eletroeletrônicas, digital e computacional
permitiram que, nos últimos anos, os organismos públicos de produção de dados
passassem a fornecer uma gama cada vez maior de informações cartográficas e,
atualmente, com a promulgação da Lei do Acesso à Informação (Lei 12.527/11),
praticamente toda as informações e dados nos três níveis de governo podem ser
acessadas livremente.
Se pensarmos nessa trajetória da Cartografia brasileira como longa e
complexa, o que podemos esperar da
evolução da Cartografia em geral, isto é, dos registros ou representações
gráficas dos elementos do mundo real, desde os primórdios da humanidade.
Evidentemente que devemos considerar,
igualmente, uma história rica e diversa.
O conhecimento humano é medido pelas suas conquistas e pelo progresso nas
formas de pensar e agir. Sabemos dos feitos dos nossos antepassados graças aos
registros que deixaram gravados em painéis em paredões rochosos, cavernas ou
paredes das antigas construções.
Os primeiros mapas conhecidos
Sabemos que as sociedades antigas tinham formas de representação gráfica
do espaço apropriado, pelos registros arqueológicos recém-descobertos.
São duas as representações cartográficas consideradas mais
antigas:
Uma delas foi encontrada em 1963, por James Mellaart, em Ancara, na Turquia,
durante a escavação da cidade
de Catal Hyük, na Anatólia (Figura 1).
Figura 1. Planta da cidade
de Catal Hyük (cerca de 6.200 a. C.)
Fonte: henry-davis.com
A imagem da Figura 1 corresponde à planta da cidade com aproximadamente 80 edifícios,
pintada em uma parede com cerca de nove metros de comprimento.
O sítio contendo a edificação e as pinturas foram datados pelo método
radiocarbono em quase 6.200 a. C.
Acima da cidade, há o registro de um vulcão supostamente em atividade
envolto por umas bombas vulcânicas incandescentes que rolam pelas encostas e
outras que são jogadas para cima onde paira uma nuvem de fumaça e cinzas.
O outro caso considerado é a placa de cerâmica (Figura 2) de
aproximadamente 2.300 a. C., com 7.6 x 6.8 cm, que representa a cidade de Ga Sur, no atual Iraque,
durante a dinastia
de Sargão de Akkad (2.300 - 2.500 a. C.). Há outra datação
ainda não homologada, que situa a placa no período Agade, a cerca de
(3.800 a. C.).
Figura 2. Placa da cidade de Ga Sur (2.300 a. C)
Adaptado de Wikimedia Commons
Após cuidadosa análise, foram reconhecidos diversos fenômenos geográficos
representados na placa de cerâmica. Os dois cortes em arco (à esquerda e à
direita) formam as bases de cadeias montanhosas, representadas por semicírculos
sequenciais.
Na porção central da imagem, entre as duas supostas cadeias montanhosas,
apesar de o material estar bastante
danificado, foi possível reconhecer linhas paralelas representando um curso d’água ladeado por extensas superfícies planas.
Considerando o local em que este artefato foi encontrado correspondente à
antiga Babilônia, é quase certo que se trata da primeira representação regional
da Bacia dos rios Tigre e Eufrates, o que chamamos nos nossos manuais
históricos de Mesopotâmia.
O progresso, tanto das ideias, quanto da própria técnica de elaboração de
mapas, foi bastante explorado em praticamente todo o período clássico da
antiguidade grega.
Para os gregos da antiguidade, o
mundo era plano, limitado horizontalmente por mares que rodeavam as terras
conhecidas e, por esse motivo, induzia o pensamento a acreditar que havia
também uma limitação vertical no plano do visível.
O céu dos gregos é uma espécie de abóbada, cravejada de estrelas,
contendo também o Sol e a Lua.
Desta imagem de mundo decorrem as primeiras tentativas de se produzir um
mapa das terras conquistadas ou com as quais os gregos mantinham relações
comerciais.
A Figura 4 retrata duas das representações mais antigas do mundo visto
pelos gregos: A de Homero há cerca de 900 a. C. e a de Hecateu, há cerca de 500
a. C.
Figura 4. O “mundo” de
Homero (900 a. C.) e de Hecateu (500 a. C.).
Fonte: atlantismaps.com
Note, na Figura 4, que, entre um mapa e o outro, já podemos considerar uma evolução da forma
dos contornos dos territórios além de uma ampliação das terras conhecidas, ainda que, o “mundo” grego da antiguidade era compreendido apenas
por parte do que conhecemos hoje como Europa, Ásia e África.
O encerramento dessa era foi marcado pelos avanços, tanto
no plano teórico, quanto prático,
no que diz respeito, respectivamente, à matemática e à observação do comportamento
da natureza.
Um exemplo bastante
consistente sobre essa
combinação de fatores
é a proposta de Ptolomeu (90 – 168 d. C.), em valer-se das linhas meridianas conhecidas e empregadas nas rotas comerciais e militares para a construção
dos mapas do “mundo”.
Essa proposta não foi realizada por Ptolomeu, mas muitos de seus leitores
matemáticos tentaram aplicá-la nos mapas.
A Cartografia romana
Merece destaque também o papel desempenhado pela Cartografia romana
fortalecida pela tradição do estado em abrir estradas, tradição esta registrada
na tabula peutingeriana (Figura 6),
datadas do século IV d. C.
Figura
6. Trecho ou
segmento V da Tabula Peutingeriana
As tabulas peutingerianas
são um conjunto de pergaminhos das rotas militares
e comerciais romanas.
Descobertas em fins do século XVI por Konrad Celtes, que os entregou a
Konrad Peutinger que, por sua vez, o repassou à casa publicadora de Johannes
Moretus para ser publicado parcialmente em 1591.
O documento só foi publicado na íntegra por Franz Christoph Von Scheyb em
1753. A organização mais recente dos originais resultou em uma prancha de 21
metros de comprimento por 1/2 metro de largura.
Em toda a sua extensão, são
representados diversos fenômenos naturais (montanhas, rios, lagos, mares, etc.) e sociais (núcleos
de povoamento, templos, culturas
ou zonas de cultivo, etc.) aos quais os romanos ajustavam toda
a infraestrutura do império.
Por outro lado, a Figura 5 demonstra que os romanos tinham sérias
limitações no campo da Cartografia, pois as rotas são, preferencialmente,
alinhadas segundo as longitudes, desprezando as dimensões latitudinais, já há
bastante tempo conhecidas.
Ainda assim, as tabulas foram fundamentais para a gestão dos espaços
conquistados até a derrocada do império em 1453, data em que os turco-otomanos
conquistaram Constantinopla.
A
Cartografia na Idade Média Europeia
A queda do império romano ocorreu, concomitantemente, à expansão do
império turco- otomano como resultado das sucessivas ondas conquistadoras que
caracterizavam a Ásia até aquele período.
Simultaneamente, o cristianismo sediado em Roma, expandia sua influência
na Europa até se tornar hegemônico política, econômica e culturalmente.
Tal influência cultural atingiu tanto as artes, quanto as ciências. Na Cartografia, como não poderia
deixar de ser, essa influência
encontrou um terreno bastante fértil, tendo em vista
que os mapas são uma linguagem muito eficiente de transmissão de uma ideia. Representação que simboliza o papel da Cartografia enquanto instrumento de comunicação cristã.
O mapa de Isidoro de Sevilha, publicado em 1472, conhecido como Mapa “T e
O” (Figura 7), dentre os muitos que surgiram
na Idade Média europeia, é uma simplificação bíblica da Terra da criação.
As formas geométricas perfeitas representadas pelas letras “T” e “O”, que dão nome ao mapa
e seu posicionamento com o Leste como ponto cardeal de referência e a sua
centralidade na região que compreende Jerusalém, são indícios do vínculo com as
escrituras bíblicas e com a noção aristotélico-ptolomaica de mundo.
Paralelamente ao desenvolvimento de uma Cartografia afinada com os
princípios cristãos na Europa, na
cultura islâmica, tradicionalmente âmago das ciências de modo geral e das
técnicas aplicadas ao uso do solo, formou-se
uma escola de cartógrafos de rara habilidade na representação gráfica das
terras conhecidas.
Dentre os cartógrafos árabes mais icônicos, podemos destacar o trabalho
do geógrafo árabe Abu Abdullah Muhammad Al-Idrisi. A Figura 8 é, provavelmente,
sua obra mais conhecida na cultura ocidental e é marcada pela precisão nos
contornos e detalhes dos aspectos geográficos dos territórios representados.
. Mapa-múndi e Al
Idrisi (1154)
O que mais chama a atenção no mapa de Idrisi, de 1154, é a sua conexão
com a cultura e a perspectiva árabe a respeito do mundo, representados pela
centralidade geográfica da península arábica, especificamente em Meca, e o seu
referencial cardinal a partir do Sul.
A Cartografia no Renascimento
Assim como diversos
aspectos técnicos e científicos da cultura árabe,
a representação de Idrisi
também foi absorvida pela crescente economia mercantil europeia no contexto da
passagem do século XV para o XVI.
O estabelecimento comercial com as “índias orientais” demandava longas
viagens ao redor do continente africano e, de maneira conveniente, os
navegantes europeus adotaram os mapas árabes, bastante precisos para a época, a
fim de orientar as embarcações em mar aberto.
A Figura , a seguir, pode
exemplificar com segurança a adesão europeia às técnicas cartográficas árabes.
Trata-se do mapa de Hieronymus Marini,
de 1512. Embora
já fizesse parte do instrumental de orientação
náutica das frotas portuguesas e espanholas, entre outras, o mapa guarda
fortes influências árabes
representadas pelas referências como o Sul como o ponto
cardeal de referência e a centralidade em Meca.
Mapa-múndi de
Marini, de 1512.
Fonte: Wikimedia Commons
Já consta da noção de mundo europeia a existência
das terras americanas. Mesmo assim, o referencial ainda se mantém fiel ao
modelo árabe de confecção de mapas.
A Cartografia sempre representa visualmente uma ideia. Assim, quando observamos
um mapa pendurado na parede de uma repartição pública ou um modelo de globo
terrestre na mesa do professor de Geografia, aquela nos parece ser a
representação verdadeira da Terra, não é mesmo? Todavia, o planeta Terra real
não tem uma mesa que o sustente e nem uma parede onde possamos pendurá-lo. O
mapa ou o globinho de mesa são apenas recursos que inventamos e a porção que
achamos conveniente deixar virada para cima na tentativa de representar a Terra
real.
Considerar que os mapas são representações das nossas ideias e não
reproduções fiéis da totalidade do espaço geográfico inclui pensar a própria
cartografia brasileira.
Os nossos referenciais são tão estáticos que deixamos de considerar a
possibilidade de vermos neles algo que pode ser mudado a qualquer instante
dependendo dos nossos projetos de
sociedade e de país, deixando para trás a Cartografia que nos foi transmitida a
partir de interesses externos.
A Figura a seguir é uma reprodução das primeiras impressões dos colonizadores
sobre o território que viria a se constituir no Brasil.
Mapa de Giacomo Gastaldi, de 1565.
A Figura acima é o mapa de Giacomo Gastaldi confeccionado a propósito do 3º
volume da obra Navigationi et viaggi de
Giovanni Battista Ramusio, publicado
em 1565, disponível na Fundação Biblioteca
Nacional, o qual registra a viagem de Jean Parmentier ao longo da costa
brasileira em 1520.
Note que a imagem, que retrata
o “Brasil”, contrasta com a dos
mapas dos manuais e atlas atuais
do Brasil. Isto porque o referencial
utilizado é outro. As palavras “ponente”
no topo e “levante”
na base do mapa, compreendem,
respectivamente, o Oeste e o Leste dos mapas atuais, também definidos com
base nos objetivos e interesses externos à época e aceitos
até hoje.
Essas visões conservadoras de produção cartográfica vêm sendo aqui e ali
desde a década de 1970, questionadas por
autores, editores, artistas e críticos literários latinos que, cada um ao seu modo, propõe a adoção de referenciais culturais sediados dentro das próprias sociedades.
Um diagnóstico descuidado e eurocêntrico poderia julgar as figuras 8, 9 e
10 como erros de edição em relação à Figura 11 a seguir, mais conhecida e dita “normal”,
já que nesta, o Norte é utilizado como ponto cardeal de referência e a
Europa ocupa, em geral, um lugar de destaque no centro-superior dos mapas mais
utilizados, o que não e, definitivamente, este o caso dos mapas das figuras 8,
9 e 10.
. Primeira projeção do “mapa-múndi” de
Mercator, de 1569.
Na representação de Mercator , há que se ter em mente que as
navegações comerciais do fim do século XV e início
do XVI trouxeram uma infinidade de dados e informações
para uma
verdadeira revolução na Cartografia.
Como resultado dessa conjuntura favorável, os mapas, enfim, passaram a
representar a área da Terra na forma de um cilindro plano, com todos os seus
continentes e mares, ainda que bastante distorcidos, em termos de forma, quando
comparados com os contornos dos mapas atuais e ainda preenchidos por detalhes
concernentes à cosmologia da época.
No mapa de Mercator,
o referencial ao Norte e a centralidade europeia já ocupavam
o lugar de destaque
que têm até os dias atuais, contrastando com a visão árabe de mundo, já não mais
tão condizente com as demandas
comerciais europeias e, mais que isso, já representando uma influência decadente que perda cada vez mais espaço nas relações externas
para as potências comerciais europeias.
De certa forma, podemos afirmar que a projeção cartográfica de Mercator,
ao mesmo tempo, encerra uma tradição de elaboração de mapas, à qual podemos
considerar mais artística e, por outro lado, inaugura uma linhagem de
cartógrafos cada vez mais técnicos que confeccionam mapas cada vez mais
precisos, subsidiados por dados e informações cada vez mais complexas do ponto
de vista geométrico e diversa do ponto de vista qualitativo.
Podemos afirmar, assim, que Mercator seria o fundador
de uma, agora, Cartografia Sistemática de fato. Coube aos seus sucessores incorporar novas técnicas de coleta de dados,
definir padrões de representação e aperfeiçoar os produtos e suas finalidades
cada vez mais voltadas ao conhecimento dos territórios do estado.
A evolução da Cartografia Sistemática obedeceu à uma evolução nas
projeções cartográficas a partir de Mercator. O Sistema de Projeções
Cartográficas que tratará desta evolução será abordado em outra unidade.
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